Suspira
sobre a minha pele descoberta. Vêm percorrendo os lábios entreabertos, e à
medida que se movem, abrem-se mais para que possa me abrir: assim que seus
dentes me rasgam como a capa de um crème-brûlée e magicamente o sangue não
jorra. Ele me toma sem fazer sujeira. De olhos fechados, tudo se retém, nada
chega a escorrer. E ele prossegue inexorável em seu rumo, passando por derme,
membranas, afastando as veias com a língua, sem rompê-las. Eu o
sinto nos olhos fechados, vermelho e negro, mergulhando aonde nem eu em mim
mesma já fui. Lambuza-se em meu peito aberto, navega entre a pulsação que ele mesmo inspira. Num golpe súbito, ele fecha os lábios e aspira,
suga o que não sai do lugar. Tremo entre sua boca e meu pulmão, mas não é isso
que ele quer. Ele quer a mais, então nem respira e afunda, estica a língua
até que toque o meu inviolado coração. E ouço um gemido quase alheio, mas
que vem mesmo dali, de dentro. Tenho seus cabelos presos entre meus dedos, ajudando a me engolir. Eu o ajudo a me matar de uma pequena
morte, já que nenhum dos dois sucumbe, por mais que tente. Eu o ajudo no
dilacerar que causa dor, porque a dor é seu prazer em mim. Portanto, a
dor é nosso prazer.
Com
o mesmo jeito ele volta, e em sua mágica, me realoca. Sela-me a pele apenas
avermelhada, sem mais sinais do que os que tinha antes. E vem lamber meu rosto
salgado com aqueles mesmos lábios.
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