Crônicas de uma Exploradora do Invisível.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Ouro de tolo

A primeira vez que vi Emília,
Ela me pareceu como todas as outras:
Uma boneca, pálida, metida
E a primeira vez que ela me viu, me achou assustador:
Grande, cabeludo, uma besta.

A segunda vez que vi Emília, foi nas conversas dos meus amigos:
Durona, engraçada, infantil
E aí ela começou a ser bonita de outra maneira
A segunda vez que ela me viu, foi além da pele
E desde então ela sorriu.

Na terceira vez, nos vimos juntos:
Palavras, gostos, favores
E na quarta, uma blusa de banda, dois livros, uma piada

Depois da quinta vez, eu perdi a conta
Porque na quinta é quando tudo desaba
Foi quando eu vi que estava sem coração
E ela descobriu que eu a queria debaixo da pele
Junto de cada osso
Na raiz de cada dente,

Apesar de tudo.

E eu vi como ela me queria:
Toda vez que ela não me olhava
Toda vez que ela não sorria
Toda vez que aquele lábio tremia
E em todas as palavras que ela não dizia

Então, nos vimos como num espelho:
Um anjo e um demônio
Na unha de cada dedo
Um desejo manchando um sonho
No meio dos seus seios
A minha cabeça rolando
Pra longe do corpo
Pra longe

E eu descobri que a odiava
Assim que fechei os olhos.