Ela chorava por antecipação,
Porque sabia o que estava por vir.
Que a escuridão do que estava por
vir
Estava para sair de si.
Conhecia
Que haveria de dizer
Aquela palavra
Que haveria de dizer
Aquela palavra
E já
A sentia sobre a língua
A sentia sobre a língua
Dura e quente
Feito um bolo de ferro
Que se haveria
De derramar definitiva e lentamente
De derramar definitiva e lentamente
Até bater no chão e empestear o
quarto inteiro
E ainda: arder de volta nos olhos
antes de impregnar nas paredes
Como fuligem.
Debruçada sobre o pano de prato
que bordava chorava já,
Pois sabia que a hora ia vir até
ela
Como estação de trem
longínqua
Que estivesse em algum lugar
do espaço,
O quarto,
Fatídico esperando
Que ela chegasse. Esperando pela
sua boca.
Esperando pela sua coragem.
Pois já podia ver os olhos
desviados do outro
E previa cada centímetro daquela
pele escura
Se colorindo de frustração.
E já podia sentir as ondas
A partir do seu arriar de ombros
E dos cantos dos seus lábios
Insoluços, para baixo.
Chorava já e sim,
Pois conhecia a lei da lógica
E a reação
Para todo não
É o fim.
Traçava no pano alvo uma linha
azul
Que desenhava uma flor
sobrenatural e feia
E aquela uma palavra que tinha
como certeza
Justificava todas suas razões para chorar.