Crônicas de uma Exploradora do Invisível.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Baseado em fatos reais

17 de junho, domingo

            Um medo de olhos arregalados e dedo no gatilho. Medo de qualquer coisa que faça quebrar, mesmo que seja o cofre de porquinho. Algumas coisas devem ser destruídas, igualzinho a gente: devem nascer para morrer.
            E no fim de todas as contas, é isso a fé. Acreditar num sentimento melhor lá depois, quando for impossível sentir qualquer coisa.
            Saúdo minha dor no estômago e a tal da paixão. Provação. Prefiro muito mais o medo, porque sei o que vem depois. Quanto maior o medo, melhor o alívio. Mas apaixonar-se? Quanto mais fundo se vai, mais fundo se vai. E com aquele ar viciado de suspiros, não se enxerga direito. Naquela ausência de luz sobra a imaginação, e a imaginação é uma reminiscência do divino. O divino que é nosso odeia nossa humanidade – sonha com o outro lado do rio e seu depois não é alívio. É horror.
            A decepção é o momento em que somos mais. Estendemos uma mão pro céu e pensamos “por que, por que, por quê?” E por que esse cansaço de desejar morrer? Porque um desejo sempre tem que seguir a outro, e no fundo, a paixão deseja mesmo é o autodestruir. Uma explosão bem barulhenta para soar sobre o mastigado de pipoca. A paixão é o mais capitalista dos sentimentos, apesar de ser vermelha.
            Será mesmo que estar só é proteger a todos os outros?

17 de janeiro, domingo, 3 anos depois

         Última nota de sua narradora: A recuperação não foi da dor da queda. O pior é quando o sangue esfria.