Crônicas de uma Exploradora do Invisível.

sábado, 4 de maio de 2013

Claudio e Veridiana, parte I


Do nada, o garoto soube que estava, como que dizer, perdido. Sentou de volta na sala de aula, com o rosto lavado de sorrisos e a boca ainda gostosa de Veridiana. Tinha uns 15 minutos a esperar ainda na sala fria aonde pouco a pouco chegava gente. Uns bons e longos minutos em que, prazerosamente, o seu olhar vagava entre o papel branco do caderno aberto, o chão cinzento limpo, o quadro de bordas azuis. Ficou piscando os olhos sem se aperceber, e sentindo-se preso – ou antes, enredado – num estado de espírito esticado, que não se decidia entre o cheio e o vazio. Estava exaurido.
Era ali no “depois” que ele passava a saber, e a dar-se plena consciência de como se sentia. Durante a estada de Veridiana, ele apenas sentia. E se levava pela corrente das suas palavras úmidas de riso. Era sempre quente com Veridiana, como se as horas dela fossem as horas do sol da justiça firmado no mais alto dos céus.
Era na presença dela que ele aspirava o ar com mais afinco, como se seu corpo botasse então por necessidade prioritária o Oxigênio. Era o ser-com-ela que guiava o trilho de suas horas, as horas de espera e todas as outras. Por aquelas tardes singulares, raiadas de verde esmeralda, vividas sempre na lista dos lugares-comuns, o seu espírito se reunia ao corpo e aumentava então a demanda por fôlego.
Põe-se agora o garoto sobre a mão e os cotovelos, no momento em que o espírito começava a voltar a dormir, quase suspirando. Todo sensacional cedia lugar ao banal e era chegado o seu momento de cinza nas horas. Aquelas horas, tais quais as de Romeu, que são alongadas por não (mais) terem o que as tornaria breves. Sim, sentado ali ele deixava que o patético lhe tomasse, contínuo e certeiro como onda crescendo do mar à areia. E todo dia que acordava sabendo que não a veria, era um dia arrastado e aparentemente despropositado no fim das contas de seu Universo. Além disso, ele se enxerga agora, tropeçado e prostrado num dia oco. Foi tirando conclusões.
Chegou ali pensando que aquela coexistência exuberante a que chamavam “namoro” era algo perturbador quando pensado de uma certa distância. Era como doses de maravilhamento entremeadas pela vida real. Como uma comunhão metafísica exposta em filas de cinema e vivida sobre mantas de crochê perfuradas pela grama. Do nada, todo aquele raciocínio lhe nasceu da terra. Só a palma solitária e a voz do professor vieram lhe buscar de volta pro mundo dos reais.
Mas a boca, esta continuava acordada até quando o resto do corpo e o espírito adormeciam.