Crônicas de uma Exploradora do Invisível.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Rosa dos ventos [e Fé no futuro I]



Eu tenho um barco no meio do deserto e o barco é o meu corpo
Branco, queimado.
Tenho um barco em folhas de louro e um céu folheado a ouro
Cruel, mas nunca menos belo.
Meu barco vai em frente nem sei como
E a força que o tira da inércia muda algumas vezes sua direção.

De repente, dedos frios pré-tensos
 e pretensos de prazer.
O céu sobre o meu barco é de ouro,
Mas ouro é metal,
É condutor elétrico e pode ser
Muito quente e muito frio. E vai,
Desbravando solo e mar. Vai,
Ele também solo,
Flutuando em azul-escuridão.
 Marine blue.
Tremo sobre as pernas de madeira
Eu, que sou profundezas e lodo
Mas sobre a proa há a coroa de louros e o céu fervendo o mundo inteiro.
O céu de pústulas arrasa o meu barco e agora é guerra,
É água,
É o futuro que não se prevê,
Se ora.

Aponta para frente a ver se o céu muda,
Se o mar termina,
Se existe montanha, ó Noé, depois deste deserto.
Embica sua campanha sob o Sol que, tão estranhamente, incita é lágrimas.
E volto
A estar sobre o barco
As pernas tremem sobre a madeira.

 O ar tem barulho e a dor é apenas sinal de vida.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Sereno

Se amanhã chover, amor, não é problema, porque a chuva será muito mais digna desse céu do que os meus olhos. Se amanhã de manhã chover, eu sei que não tem sombrinha, nem capa, nem boné, mas só minha cabeça de cabelos ensopados, abençoados indignos. Se amanhã de manhã chover, será dueto com meus olhos, comigo que choro ao te deixar. A água celeste vai me abraçar, me correr, me profanar do mesmo jeito que eu desejo você. E seu calor compartilhado durante a noite na minha pele se conserva, debaixo das roupas e da manhã preguiçosa de luz, eu andando na rua voltando para casa, triste de ter que sair, e debaixo da chuva hipotética, o teu calor evaporará.
Amor, se amanhã a chuva vier será morna, mas eu nem vou sentir. Como agora que você se preocupa e fica falando sem parar, se movendo, olhando pro ar, dizendo um milhão de coisas que nem você mesmo sabe direito. Se amanhã chover... E suas reticências. Tanto faz que chova, amor. Contanto que a noite seja nosso teto, que as horas sejam gastas perto do que é desejo & sonho circular. Sem fim. Você pergunta e eu sorrio. Para que fins? Sabe que nem você se ouve, desfiando seus “se”, mas já se entregando. Porque eu não ligo de me ensopar amanhã se puder ser molhada dos seus beijos já. Deixa que a natureza siga seu curso e nós sigamos um ao outro pelo quarto hoje.
Você fala de uma manhã que não existe, pois agora é noite e eu aqui na sua frente – finalmente – você protela, posterga e procrastina perguntando nervoso, E se amanhã chover?
Não fará diferença se chover, se nevar ou se nunca mais chegar o outono.
Eu sorrio e te respondo, Amanhã de manhã tudo vai ser doce. Nevoento, cheio de cruzes e dragões, momentos, colisões, cordas, vibrações, sims, nãos e anões. “Pode ser” pro seu “Se”. A sua mão e a minha, culpa e um sorriso que não rima. É isso, amor, e tenha certeza:
Se eu pudesse escolher,
sim,
iria chover.