Do que você precisa para esquecer
uma torta, uma roupa
Debaixo do ferro
O dedo na porta, as calças do
terno
O horário do filme, da aula, do
enterro.
Do que você precisa para ajuntar povos e sorrisos de lamentos
Sobre um buraco de caixão
Uma vida inteira de conexões
jogada em 4 segundos e meio de frustração
12 andares abaixo.
Do que você precisa para dizerem que
te conheciam,
Que nunca desconfiavam,
Que merecias um troféu ou no mínimo
uma medalha ou no máximo um afago
Ao fim
De cada dez minutos de uniforme.
Do que você precisa para manter a
cabeça fria
e não despertar a fome de lágrima
e não despertar a fome de lágrima
E aquele anseio pelo absoluto
negativo
Do zero empalado pelo meio
O cair, o ceder, o retroceder ao
berço.
Do que você precisa para esquecer e não ser esquecido
Morrer burlando o sentido do
negativo
Morrer para se transformar em
ponto final da História.
Ah, suicida, que sede de coerência!
Que pressões extremas moldaram-lhe os sentimentos.
Que sentimento, o dos dedos sobre
o cimento do beiral,
O cheiro da umidade dos aparelhos
de ar-condicionado
O vento que sopra no lugar onde
ninguém deveria estar.
Do que você precisou para pular,
Para não congelar,
E não se arrepender, mas dar
Para não congelar,
E não se arrepender, mas dar
O passo infinito à frente e se
tornar barulho
De encontro ao chão?
Do que precisaram seus vícios,
para virarem gás
Seus olhos, para virarem líquido
Sua cabeça bem centrada enquanto
esperava o elevador no térreo?
De nada. Você precisava do nada.