Até que chegue
a nossa hora – de dormir, de levantar durante o sonho, de navegar entre as ondulações
que as estrelas produzem na Via – escrevemos. Vivemos, metade por metade,
agarrando o beiral palmo a palmo até que os antebraços estejam bem fortes para aguentar
o impulso das pernas para cima – para cima da cama, rapaz. Até que a gente se
ache, se trombe finalmente, se estremeça sem entender nada, mas com as psiques
se arregalando e reconhecendo mutuamente – ah, até lá a gente vai levando. Como
dá, ou não. Às vezes não dá mesmo.
Às vezes se
afunda num marasmo caudaloso, tão intenso que parece nem se mover. Nessas
vezes, só uma força externa para quebrar a inércia – reiterando o que Newton já
postulara – e essa força em geral é a amizade. O trabalho faz essas vezes também,
mas é escorregadio. Ele embaça mais do que limpa.
Mas a espera
prossegue. Os lugares-comuns se sucedem, como uma viagem de volta para casa. É
tão tarde que os olhos pesam e eu sei que você me repete as palavras e o
sentido. Eu sei que você tem a boca cheia desse gosto acre de não se exercitar como
pensa que deveria. Eu sei que seus braços têm as pontas insensíveis e as unhas
esbranquiçadas. Eu sei que o seu cabelo está quebradiço e sei que seu conjunto
se vai, fraco. Também eu me esvaio e morro a cada grupo de segundos que me dou
conta de contar. Por isso que escrevo, deixo de contar.
Porque aqui, é
como iluminar a cena. Sob esta luz, seus olhos se vêem, e é a mágica. Por
esquecer dos limites do possível, respira um pouquinho e se oxigena – pensa.
Isto é carta, é diário; é ficção, lembra. Mas não significa que não seja
verdadeiro, ou seja, que nada queira significar. Minha tinta vai dizer
exatamente o que você quiser pensar: você é o objeto, e isto é o objetivo.
Antes que a objetiva das minhas lentes finalmente te mirem, você já vai me amar
pelas minhas palavras.
E vai chegar a
nossa vez. É uma questão de fé.
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