Crônicas de uma Exploradora do Invisível.

sábado, 20 de abril de 2013

Não


Ela chorava por antecipação,
Porque sabia o que estava por vir.
Que a escuridão do que estava por vir
Estava para sair de si.

Conhecia
Que haveria de dizer
Aquela palavra
E já
A sentia sobre a língua
Dura e quente
Feito um bolo de ferro
Que se haveria
De derramar definitiva e lentamente
Até bater no chão e empestear o quarto inteiro
E ainda: arder de volta nos olhos antes de impregnar nas paredes

Como fuligem.
Debruçada sobre o pano de prato que bordava chorava já,
Pois sabia que a hora ia vir até ela
Como estação de trem longínqua
Que estivesse em algum lugar do espaço,
O quarto,
Fatídico esperando
Que ela chegasse. Esperando pela sua boca.

Esperando pela sua coragem.
Pois já podia ver os olhos desviados do outro
E previa cada centímetro daquela pele escura
Se colorindo de frustração.
E já podia sentir as ondas
A partir do seu arriar de ombros
E dos cantos dos seus lábios
Insoluços, para baixo.

Chorava já e sim,
Pois conhecia a lei da lógica
E a reação
Para todo não
É o fim.

Traçava no pano alvo uma linha azul
Que desenhava uma flor sobrenatural e feia
E aquela uma palavra que tinha como certeza
Justificava todas suas razões para chorar.

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