Ele
a via parada feito um bicho: os olhos como um desenho sobreposto, rasgado em
rajas. O corpo, dos lábios ao peito e os dedos, indo pra cima e pra baixo num
ofegar barulhento. Acuada, presa da própria fraqueza –
mas com aqueles olhos, não havia real necessidade de palavras.
Ele
a rodeia, grande, apenas um pouco menos barulhento. Gravitam lágrimas, sobe suor. São quentes os dedos que ele fecha, que ele aperta naquela pele. Ela
pálida, ele desconhecendo autocontrole, mira: sem amarras mais do que os nós dos dedos. Quando alcança a
boca daquele bichinho cativo, aspira daquela respiração acelerada, bebe do vapor que sua presa transpira. Corre os dentes por aquela
carne tão molhada e continua salivando como um faminto chamado à mesa
de repente; sobe a mão direita como um fanático àquele
lugar delgado onde mora sua cegueira. Ela treme, ele não. Se há alteração
alguma, é que é mais firme agora a mão fechada enquanto o beijo se aperta mais,
o corpo se afasta e a mão esquerda comanda – ela se dobra e deixa
as costas no horizonte; ele se acerca, fundamenta os joelhos. O ar se vai. Ele
abre a boca e apenas sente aquelas veias, como um vampiro que
não precisa de dentes. Quase delicado, seu dedo esfrega a pele tensa, os poros
de pé, o vermelho nas retinas; estica o outro braço e se afunda naquele corpo que era somente pulsação sob carne e pele arrasada, mal sustentada
por ossos que iam ceder ao seu próprio comando.
Ele
ia, o puro pecador, a mão se antecipando ao fogo eterno. Puxa os lábios sobre os da presa rendida, aberta em cruz, com o sangue correndo tanto que diria querer
explodir-se para se ter então ao mesmo tempo em toda parte do outro corpo, que
a consumia por grama e mililitro.
E como ele a
engolia através das peles e dos pelos e dos mesmos dedos, que queriam ir tão
profundo quanto nunca lhes seria permitido.
Não havia nem
dor, nem anjos, nem mesmo terra ou cheiro ou alguns últimos
escrúpulos escondidos que se acendessem agora numa lembrança salvadora.
Não havia um pingo de razão naquele corpo comandado pela doutrina dos dedos e
das digitais que se condensavam naquele pescoço cada vez mais estreito, cada
vez mais compacto, e por debaixo a respiração alta do sangue também cego, cada
vez mais diluído.
Ele sabia e
agora era governado por isso - por saber-se mais elevado quanto mais fundo a
tinha, e quanto mais ela morria sem
dúvidas, mais ele se sentia, sem um pingo de razão, mas com todo o corpo consciente
e o inconsciente latejando: vivo.
Do momento em
que ele abriu os olhos até voltar a sentar-se sobre as pernas, era como se
continuasse cego. E o que mirava eram justamente aqueles primeiros olhos rasgados que
jamais se fecharam debaixo de si. Com o coração leve antes que ela (a razão) lhe
voltasse, ele estendeu mais uma vez sua mão para aquele corpo vazio e
baixou-lhe as pálpebras com os mesmos dedos que a estrangularam até o orgasmo.
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