Crônicas de uma Exploradora do Invisível.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sob cachos caóticos

            Usava a caneta apoiada na têmpora como um cano de arma que a qualquer momento fosse explodir – mandando palavras-pensamentos, pré-palavras, palavrentos, pensalavras e sanguetinta pelo ar, deixando marcas indeléveis e inconvenientes, insistentes sob sabão e pó, em todas as quatro paredes.
            Atrás da orelha, a revolução. À frente dos seus olhos, nada. Caneta insiste na têmpora. O dedo acaricia o projétil... Espera disparar a letra.
            Dança a ponta da Bic no papel espalhando seu gozo continuamente, às vezes alegre, divagando sobre nada, às vezes tristonha, riscando a alvura só pelo ato de profanar. Adora errar. Anda viciado em más decisões e verbos de ligação controversos. Não fala, não fala, não fala; mudo, mudo, mudo! Repete o silêncio teimosamente. Incita a exclamação inexistente. Nega-se à ação. Ampara-se no meio do seu nada; o seu nada muito particular. Cai de braços abertos numa escuridão ligeiramente estrábica.
            Recusa-se a falar porque não faz sentido. E, sem pistas de uma conclusão, ponto final.

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