Ele passa e
nada acontece. Ela não sente nada. Nem um arrepiozinho ou a descarga de um
hormônio qualquer, um calorzinho
diferente no peito, ou qualquer diminutivo que o valha. Sua cabeça está cheia
de ar. Chega a fazer um esboço de raiva por si mesma. A ausência de reação é
revoltante, suspeita que por ser um alívio. Não é amor, não é paixão, não é
afeto. É nada. Ou alguns olhos ávidos espreitando, um tanto inocentes, da sua
paranóica visão periférica.
Ele era uma
possibilidade nadando em volta do seu anzol. Mas ela não quer puxar a linha, não
quer nenhum placebo. Sua paixão, pobre menino, desaguaria em lugar nenhum no
afã de saciar uma sede inexistente. Estímulos puramente físicos (que nem estão
se fazendo presentes agora, imagine!) são superestimados.
A paixão não é
exatamente o anzol ou o se debater no chão, capturado pela superfície. É apenas
aquele momento de cortar a água, tão quieta e confortável... e descrever aquele
belo arco no ar, respingando pérolas de sua vida recém perdida, ainda segurando
o fôlego nas guelras, impelido por uma dor tão irresistível que só se pode
amá-la. Paixão é um momento muito rápido que em seu ápice já descreve a própria
ruína. Porque o fim do arco é o chão. E então a convulsão dentro de uma euforia
irracional, que será prontamente esquecida e, uma vez esquecida, o que resta
são as pérolas e o ar – volúvel ar, ah.
Aí esse desejo
de ser capturado de novo e de voar de novo – mesmo sabendo que o destino é o
solo – e de enxergar o mundo sem a ilusão da água – mas o que é a realidade,
senão o que nos mantém até o próximo instante? Ansiar por algo que não pode
fazer bem só poderia ser típico de gente. Natureza humana.
Mas agora,
como já dito, nada há. Só lembrança e sonho que, sozinhos, conseguem ser tão
poderosos como o atualmente tangível não alcança ser. Isso, que não nomeio amor
por motivos que encheriam outros textos, não explode e não se mata; ao
contrário, é tão simples que só respira. E respirando, se faz presente. Estando
aqui parado, de olhos abertos e esperando junto dela, já é mais emocionante do
que qualquer estímulo possível. Invisível assim é a sua causa. É o que lhe
contém sendo. Respirando quente dentro do peito preenchido por algo tão próximo
de fé, e é por essa fé que vem andando.
Afinal cada
dia é um a menos no caminho até o futuro, esse que se delineia difusamente, sem
parecer ter pressa, sabendo muito bem em que dia chegará. Qual é essa
esperança, que está na estrada? Às vezes parece que só existe a estrada e ela é
tudo. É o real, o que faz barulho. Mas é de fé que ela fica de pé, lembra. O
que ela espera é o teu perdão.
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