Crônicas de uma Exploradora do Invisível.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Paixão


Ele passa e nada acontece. Ela não sente nada. Nem um arrepiozinho ou a descarga de um hormônio qualquer, um calorzinho diferente no peito, ou qualquer diminutivo que o valha. Sua cabeça está cheia de ar. Chega a fazer um esboço de raiva por si mesma. A ausência de reação é revoltante, suspeita que por ser um alívio. Não é amor, não é paixão, não é afeto. É nada. Ou alguns olhos ávidos espreitando, um tanto inocentes, da sua paranóica visão periférica.
Ele era uma possibilidade nadando em volta do seu anzol. Mas ela não quer puxar a linha, não quer nenhum placebo. Sua paixão, pobre menino, desaguaria em lugar nenhum no afã de saciar uma sede inexistente. Estímulos puramente físicos (que nem estão se fazendo presentes agora, imagine!) são superestimados.
A paixão não é exatamente o anzol ou o se debater no chão, capturado pela superfície. É apenas aquele momento de cortar a água, tão quieta e confortável... e descrever aquele belo arco no ar, respingando pérolas de sua vida recém perdida, ainda segurando o fôlego nas guelras, impelido por uma dor tão irresistível que só se pode amá-la. Paixão é um momento muito rápido que em seu ápice já descreve a própria ruína. Porque o fim do arco é o chão. E então a convulsão dentro de uma euforia irracional, que será prontamente esquecida e, uma vez esquecida, o que resta são as pérolas e o ar – volúvel ar, ah.
Aí esse desejo de ser capturado de novo e de voar de novo – mesmo sabendo que o destino é o solo – e de enxergar o mundo sem a ilusão da água – mas o que é a realidade, senão o que nos mantém até o próximo instante? Ansiar por algo que não pode fazer bem só poderia ser típico de gente. Natureza humana.
Mas agora, como já dito, nada há. Só lembrança e sonho que, sozinhos, conseguem ser tão poderosos como o atualmente tangível não alcança ser. Isso, que não nomeio amor por motivos que encheriam outros textos, não explode e não se mata; ao contrário, é tão simples que só respira. E respirando, se faz presente. Estando aqui parado, de olhos abertos e esperando junto dela, já é mais emocionante do que qualquer estímulo possível. Invisível assim é a sua causa. É o que lhe contém sendo. Respirando quente dentro do peito preenchido por algo tão próximo de fé, e é por essa fé que vem andando.

Afinal cada dia é um a menos no caminho até o futuro, esse que se delineia difusamente, sem parecer ter pressa, sabendo muito bem em que dia chegará. Qual é essa esperança, que está na estrada? Às vezes parece que só existe a estrada e ela é tudo. É o real, o que faz barulho. Mas é de fé que ela fica de pé, lembra. O que ela espera é o teu perdão.

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