Crônicas de uma Exploradora do Invisível.

sábado, 24 de setembro de 2011

Linguagem de cinema

Take 1. Cena. Tão escuro interior de cinema. Escuro refletor do interior da personagem. Drama. Metalinguagem.
Segura entre as mãos rolos de infinitos negativos. Quase sinônimos dos numerosos pontos que permeiam sua história. Panorâmica. Avistado um desenho. Os dedos tateiam os fotogramas com cuidado, como um cego lendo em braile os tais pontos de sua vida. Acha injusto que o desejo da alma seja elevação, mas que a gravidade seja inexorável corredor que conduz a todos os movimentos |para baixo|.
Os negativos seguem a sequência e um corpo cai. Um corpo amado. Vida e ideais eternizados. Mas o que é eterno? Lá está a bala, para sempre. E o chão, para sempre. E o morto. A arte imita a vida.
Não se conforma. Também faz parte da história. Mas arranca-se da parte. Agora apenas faz a história. Os dedos cuidadosos voltam. As imagens revertem. O pequeno corpo se ergue já à margem da gravidade, sem dobrar os joelhos. A bala volta pro infinito e o homem volta a correr para onde veio. Às veias da esperança. Cuidando, com sua vida, mudar alguma coisa. Sua queda o aguarda, mas que há? O importante é a corrida. É sempre breve o flamejar.
Cena continua. Take. Close. Os olhos de quem observa editam uma lágrima que segue o curso do corredor: para baixo. Não adiantou voltar negativos? Onde está a esperança?
Fecha-se o close. Cabelos, queixo, testa, sobrancelhas excedem a tela. Aproximando zoom até centralizar a lágrima. E então a câmera gira. 180º. O que despontava queda abaixo agora despenca, eternamente, para cima.
Mágica.

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