Crônicas de uma Exploradora do Invisível.

domingo, 18 de outubro de 2015

O grande amor

O pior foi acreditar que aquele era o curso do rio do tempo.
Não foi lembrar-se de que havia ajoelhado e pedido por isso. Não foi ver-se enredada na trama dos acontecimentos que se sucediam, cada vez mais encardidos os fios das moiras, linhas e mais linhas de encontro à sua, percorrendo toda a extensão do seu ser, prendendo-lhe à terra firme, sufocando sua boca com desejos que faziam desviar os olhos do céu - ainda distante, ainda inalterado, ainda inalcançável.
Não foi estar consciente de que escolheu andar pelo caminho alternativo que acabou levando para mais longe de si. Não foi sentir preocupações que, pela ordem natural das coisas, não deveriam ser suas. Não foi sentir amor pelos personagens que escolheu para sua história, embora estivesse desvirtuando a história deles. Não foi sentir-se uma intrusa no lugar de outra pessoa.
Nada foi pior do que deparar-se, num dia totalmente ordinário, com a pessoa certa, no dia certo, no lugar certo e ser incapaz de dizer a ela quem era; que seu lugar estava ocupado; e que não houve coragem em seu corpo para esperar até ali.
Ver o outro chegar e partir, sem jamais ter nas mãos o que era seu por direito. Ver o céu, não mais distante, mas sentir sua mão amarrada na direção da terra.
Isto foi o pior.

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