Crônicas de uma Exploradora do Invisível.

domingo, 4 de março de 2012

Pérolas pelo fogo

            A correria acabou. O suor desce. O corpo batuca sangue pelos ouvidos e o céu é testemunha da montanha que alçou, do mundo que construiu e leva nos ombros. O sol já se acabou.
            Os limites, rompidos, enroscados nos tornozelos e, debaixo da poeira dos pés, toda a grandeza de seu passado. A luta finda, as luvas desatadas. O amor que se alcançou.
            Minhas lágrimas caem como um selo sobre o livro. E eu sempre soube que meu bom fim seria aqui.
            Estendo minhas mãos com as palmas para cima e não sinto mais o menos: o suor, o bater, o chorar. Dos meus braços pendem cordões de pérolas, cada uma um dia, uma semana, uma canção, um lamento. Delas fiz como um terço, que agarrei para me empurrar para frente, mas que agora são pesadas de tantas voltas, tão lindas, pois significaram sonhos. E são todas do mesmo tamanho. A que sonhei no banho, a que imaginei antes dos grandes passos. Todas importaram. Tudo que é sobre vencer. E vencer também foi abrir mão.
            Minhas lágrimas lembram de uma volta no pulso, onde fui loucura. E neste esfacelar-se de correr, como deve ser bom morrer nos braços de quem se ama.
            A correria já acabou. As voltas e voltas escorregam sobre meus braços estendidos. E não sinto mais, de tanto que sinto. Tua figura enche meus olhos. Teu sorriso é de filme mudo. Todas as luzes da cidade nos rodeiam.
            Todas as pérolas caem no fogo. E agora, vivo.

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